terça-feira, 5 de julho de 2011

Mulher tom pastel

Ela não bebe. Só espumante e bebidas docinhas. 
Nunca mudou a cor do cabelo. No máximo, faz umas luzes pra ‘realçar’ o natural. 
Não aprendeu a fazer escova em casa. Só usa esmalte clarinho e diz que é discreta. 
Nunca aprendeu a usar maquiagem, e diz que preza a beleza natural. 
Normalmente tem pele pálida, nunca toma sol. Ri baixinho, e ri de tudo. 
É uma belezinha, parece um anjo. Fala baixinho, é encantadora. 
Faz voz de criança para o namorado. 
É sensível, chora vendo filmes (EU kkk). 
Ama ver desenho animado, tem ares infantis e nojinho de fazer boquete, ou é completamente o avesso – aprendeu a fazer boquete no banheiro da escola, e já chupou metade dos homens que conhece, mas faz cara de inocente e fica vermelha quando alguém fala algum palavrão numa roda de amigos.
Nunca deu um soco na mesa. Nunca fez um barraco. 
Ela nunca se altera, apenas sorri. É tímida porém simpática, especialmente com homens. Parece inocente e pueril. 
Não fala palavrão. Conta todos os detalhes de seu dia perfeito para a mãe. 
Ela não tem bad hair days. Se fica brava, chora.
Frequentemente, é defendida por outras pessoas que, instintivamente acreditam que ela é inocente e indefesa. 
Não usa salto nem saia curta. 
Diz que quer fazer uma tattoo, mas nunca teve coragem. E se tem, faz uma estrelinha atrás da orelha ou no tornozelo. 
Uma mulher tom pastel não sabe o que é soltar a voz num show de um bar qualquer. 
Nunca subiu num palco, nunca provocou uma briga, e só se embebedou uma vez, na casa de uma tia, no reveillon, quando tomou um gole da caipirinha de alguém.
Sabe esses casais que a gente vê, abraçadinhos, olhando para o nada, no meio de uma festa?
Esses casais que, no máximo, balançam pra lá e pra cá, no meio da balada, como se estivessem assistindo a um show do Babyface? 
Muito possivelmente, trata-se de uma mulher tom pastel e seu companheiro pastelão
A mulher tom pastel costuma ser acessório de seu homem. 
Uma espécie de bichinho de estimação, afinal ela é tão meiga que qualquer um quer pendurar no chaveiro.
A vida de qualquer pessoa ao lado dela é toda em tom pastel. 
Sem mau humor, sem crises. 
Sem terceiros, sem diferenças, sem atritos. 
Nada de birrinhas, guerra de travesseiro, palavrões na madrugada ou livros de sacanagem. Sem som no último volume, sem vizinhos chamando a polícia, sem viagens não planejadas.
Todos os dias serão domingo, só que alguns, com expediente das 8 às 18. Em alguns dias, ela vai ler poesia. 
Em outros, vai suspirar amores. 
Sempre bela, sempre bege. 
Tom pastel, da cabeça aos pés.
Isso é o que alguns chamam de felicidade.
Isso é o que eu chamo de tédio.

PS.: após profunda reflexão, penso o quanto eu, tantas vezes contrariei minha essência, sendo essa mulher tom pastel. Sem lenço e sem documento

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