"A vida é um eterno
afastamento. Você acha que estou errada? Então vamos voltar no tempo.
Somos obrigados, no nascimento, a encarar este mundo. Meu amigo, não é
nada fácil. A gente nasce e tem que conviver com isso. A gente cresce e
tem que conviver com a gente mesmo. A gente amadurece e tem que conviver
com o passado. A gente evolui e tenta engolir o que não nos faz bem.
Na
escolinha, temos nossos colegas. Na escola, firmamos amizades que podem
ser para toda a vida. Na faculdade, mais amigos entram no currículo.
Então você se forma. Começa a trabalhar, conquista um novo espaço, novos
amigos. E vai deixando certas coisas para trás. Partes suas, seu antigo
quarto, seus bichos de pelúcia, seu vestido de debutante, seu primeiro
salto alto, seu lençol da Rapunzel.
Um
dia você sai de casa. Leva a caixinha de recordações com fotos,
bilhetes, coisas importantes. E sai tentando achar seu lugar no mundo,
tentando se encontrar, tentando pelo menos buscar alguma coisa, nem que
essa coisa não tenha nome, nem que você não saiba ao certo para qual
lado seguir. Mas você vai, pois sabe que é preciso virar adulto, ganhar o
mundo, caminhar, caminhar, caminhar.
Às
vezes você se machuca e acha que era bem mais fácil ser criança, pois
era tão cômodo aquele tempo em que voltava correndo para casa, chorando,
dizendo manhê-briguei-com-a-minha-amiga-na-escola. Então, você descobre
que cresceu, que tem roupa pra lavar, tem casa pra cuidar, tem uma vida
pra tocar. E isso tudo só depende de você. É você e você mesmo. Você e
seus fantasmas. Você e seu anjinho. Você e seu diabinho.
Em
um determinado momento, a gente começa a analisar quantas coisas boas
já aconteceram. Quantas pessoas legais já passaram pela nossa vida.
Quantas pessoas de verdade nos marcaram. Quantas pessoas realmente
ficaram. Com quantas pessoas você pode contar, afinal, a vida é um
eterno afastamento. E, mesmo que se afaste de todo mundo, você jamais
pode se afastar de você mesmo".
Clarissa Corêa
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